Careca, meu primeiro ídolo

Eu me tornei são-paulino com 12 anos. Não tive pai e irmãos que me fizeram gostar de futebol e ir ao estádio. Tive dois amigos que me deram essa chance de entender, aprender, gostar e por que não dizer AMAR o futebol.

Os irmãos Rose e Renato, eram são-paulinos que moravam no mesmo andar que eu num prédio ali no Pombal, entre as avenidas São Gabriel e 9 de Julho no Itaim Bibi. Até por termos a mesma idade, Renato virou um grande amigo. E como moleques criamos afinidades com música, o gosto por passear de bicicleta no Jardim Europa ou no Parque do Ibirapuera e claro, o futebol.

Nesses passeios de bike, uma vez fomos até o Morumbi num dia sem jogo. Entrei de bicicleta na arquibancada. Assustei ao ver aquele gigante e o coração acelerou de uma maneira que não sei explicar.

A Rose e o Renato sempre iam ao Morumbi ver os jogos do SPFC, e um dia me fizeram esse convite que aceitei prontamente. O jogo era São Paulo x Palmeiras e o ano era 1984. Dia de clássico! Morumbi cheio.

Lembro bem da Rose passando comigo, segurando bem firme a minha mão entre os torcedores. Renato já era safo, conhecia bem as coisas por lá. Quando entrei no Morumbi quase lotado, vi uma das coisas que até hoje me emociona só de lembrar, as bandeironas da torcida. Era um espetáculo único de ser ver!

Chegamos e ficamos próximo da Independente que ficava bem no meio da arquibancada, onde hoje é a área dos sócios torcedores. Sentei naquele cimento frio para presenciar aquilo que me transformaria para a vida toda.

A Rose foi narrando quem eram os jogadores e falava com muito mais entusiasmo em um nome. CARECA! Desse momento em diante passei o observar o tal CARECA e com ele pude ver como o futebol poderia se bonito sendo jogado limpo e com paixão.

Naquele dia 09/09/1984, o São Paulo perdeu por 2 x 1. Aquele jogo foi o de número 1472 da história do SPFC, eu conheci o meu maior ídolo com a camisa tricolor. Em 1984 não ganhamos nada. Careca havia chegado no Morumbi em 1983 para substituir “só” o maior artilheiro do clube até os dias de hoje, Serginho Chulapa.

Careca passou quase 2 anos sem dar o retorno que a diretoria e a torcida esperava dele. Mas os anos 1985,86 e 87 Careca foi inquestionavelmente o melhor jogador brasileiro na sua posição e com isso ganhamos 2 Paulistas (85/87) e fomos campeões brasileiro numa das finais mais emocionantes da história do futebol. Dentre os mais de 115 gols feitos por Careca em 191 jogos com a camisa do SPFC, destaco 2. Aquele gol aos 14 do segundo tempo da prorrogação, SP perdendo de 3 x 2.

Lançamento da zaga pra área, Pita resvala de cabeça, ajeitando a bola pra CARECA fazer um gol de sem pulo, empatando o jogo e levando para o pênaltis, onde o SPFC seria campeão brasileiro em 1986.

Nas semifinais do mesmo campeonato brasileiro de 1986, vi Careca fazer um dos gols mais bonitos que já no Morumbi. São Paulo x Fluminense.

Silas cobra a lateral pela esquerda do ataque, Careca mata a a bola no peito do pé, tira o seu marcador num jogo de corpo, se vira pro gol, ali próximo a lateral mesmo e chuta. Meu deus! Só um craque pra fazer um gol desses! A bola bate no travessão e na trave direita e entra!

Era bom ver o Careca destemidamente encarar seus adversários. Jogava sempre pra frente, sempre em direção ao gol. Fazia com Sidney, Silas, Muller e Pita o melhor meio campo e ataque que eu já vi jogar no SPFC.

Dava gosto ir ao Morumbi só para ver esse moço mostrar o quanto ele gostava de fazer aquilo. O quanto ele gostava de futebol, de fazer gols e de vestir nosso tão honrado manto tricolor. Hoje em seu aniversário de 50 anos, reverencio o MAIOR jogador são-paulino que vi jogar. Obrigado Careca!

Você faz parte das minhas melhores memórias do futebol e por sua causa hoje eu sou um são-paulino apaixonado e não suporto ver um jogador não demonstrar o mínimo respeito a essa camisa que você soube honrar como poucos souberam.

Nos seus 50 anos de idade, ainda vejo seu vulto, pelas memórias que estão presente em minha mente, você no gramado do Morumbi, trançando entre jogadores adversários, flutuando pela grama, sempre tratando carinhosamente a bola e vibrando muito com cada gol marcado com essa camisa são-paulina.

Obrigado por seus 5 anos de SPFC! E por seus 50 anos de amor a vida e ao futebol! Que Deus te abençoe que todo são-paulino possa no dia de hoje incluir seu nome em suas orações. Porque se não fosse você, talvez não seriamos 6 vezes campeões do Brasil.

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