Jogador de 34 anos relembra passagem de dez anos pelo clube italiano e título da Euro pela Itália: “Nunca deixei de ser um brasileiro”
O nome de Rafael Tolói tem movimentado o mercado de transferências. De férias em Goiânia, o zagueiro vive a expectativa de tomar uma decisão sobre seu futuro já na próxima semana.
Livre no mercado desde 30 de junho depois de dez temporadas na Atalanta, da Itália, Tolói recebeu sondagens de quatro clubes brasileiros e teve nome ligado a alguns clubes da Europa nos últimos dias, como Torino, da Série A italiana, e Pisa, da Série B.
Aos 34 anos, ele tem conversas abertas também com o grupo da Arábia Saudita e pode explorar um novo mercado. As negociações são conduzidas pelo agente André Castilho, da Madeira Sports.
– Não tive uma busca direta de um clube brasileiro, são intermediários que me procuraram, mas não tive nada oficial. O pensamento inicial seria voltar para a Europa ou outro mercado. A gente não descarta nada. É justo dizer que estou há dois meses sem jogar, no Brasil seria mais difícil, pois eu preciso de uma pequena pré-temporada, umas duas semanas com o grupo. Hoje eu treino sozinho, é diferente de treino de campo com grupo. Mas venho trabalhando. Existem conversas avançadas com alguns clubes de fora e estou me preparando – disse ele, em entrevista ao ge.
Veja abaixo uma entrevista com Tolói sobre seus anos de Atalanta, as experiências na seleção italiana e o passado no São Paulo.
ge: A Atalanta foi, até aqui, o clube da sua vida?
– Foi o clube da minha vida, não só por ter jogado dez anos, mas por ter participado do seu crescimento. Quando sai do São Paulo, fui com o pé atrás, o São Paulo é um clube muito grande, tenho muito orgulho de ter jogado no São Paulo e ter sido campeão da Sul-Americana, mas quando fui achei que ficaria uns dois anos na Atalanta e depois iria para um clube de maior expressão. Mas participei do melhor momento da história do clube. Foi extraordinário. Esse bom momento do clube e o meu bom momento me levaram até à seleção italiana.
Jogar na Itália te tornou um zagueiro melhor?
– Cresci muito lá. A gente fala da tradição da Itália por revelar grandes zagueiros, mas a gente vê sempre aquela linha de quatro, zagueiros bloqueados. Mas joguei com um treinador diferente que realçou muito minha característica, gosto de antecipar, de participar do jogo, e jogando com (Gian Piero) Gasperini com três zagueiros, as minhas qualidades se sobressaíram.
– Fui para a seleção italiana com 29 anos, já não era mais um menino. Foi muito especial, eu sabia que pela idade que eu tinha e pela forma como a seleção brasileira jogava, eu não teria chance de Seleção. Quando recebi o contato da Itália, fiquei muito feliz. Foi importante para dar um status maior na minha carreira. Tive duas ou três convocações e já fui para a Eurocopa, uma competição que a Itália não vencia há mais de 60 anos.
E como foi para você deixar de lado o amor pela seleção brasileira para vestir a camisa da Itália?
– Jamais deixei de ser brasileiro (risos). Sou um brasileiro raiz, um cara lá do interior do Mato Grosso, mas era uma oportunidade muito grande para crescer ainda mais na carreira. E era a seleção italiana. O Roberto Mancini demonstrou muita vontade que eu fosse, me ligou, conversamos pessoalmente. Sou muito grato, foi muito importante para a minha carreira. E vencer a Euro foi uma coisa grande.
Mas como foi a recepção da torcida a um não-italiano na seleção? E dos próprios jogadores?
– Quando cheguei já tinha o Jorginho e o Emerson (Palmieri), dois brasileiros que já estavam há mais tempo. Me trataram muito bem, a torcida também sempre com muito carinho. Foi uma escolha correta, era uma oportunidade única para mim. Na Euro, nosso grupo era muito bom. O Chiellini foi um grande capitão, um cara que representou muito. A Itália não era favorita, mas vencemos a Inglaterra lá na casa dos caras. Participei, pude jogar e foi muito especial para a minha carreira.
Como viu a Itália fora da Copa de 2022?
– Você não pode errar lá, você perde um jogo e complica tudo. Não é como na América do Sul, com pontos corridos, lá são três equipes. Você erra com uma equipe mediana… Ficamos fora da Copa sem nenhuma derrota na fase de grupos, só perdemos depois para a Macedônia. Mas não nos classificamos antes por um empate com a Suíça. É complicado. Mas espero que a Itália volte a disputar uma Copa por sua grande tradição. Espero que a Itália possa dar a volta por cima.
Neste período de dez anos, você chegou a ficar perto de deixar a Atalanta?
– Eu tive várias propostas nestes dez anos. A mais significativa foi há dois anos da Inter de Milão, com o Inzaghi. Eles procuraram a Atalanta, eu já com 32 anos, eles chegariam até a 7,5 milhões de euros. Mas a Atalanta não tinha interesse em vender, e eu não tinha interesse em criar uma situação para sair, eu tinha minha história, meu legado com Bérgamo, com a cidade, com a torcida, era o capitão. Deixei a decisão com a Atalanta, e depois fui muito feliz por nosso título histórico da Liga Europa.
Você citou sua passagem pelo São Paulo. E quão marcante foi para você?
– Pra mim foi muito especial, pois eu tinha perdido o título da Sul-Americana pelo Goiás (em 2010), quando nós chegamos na final e perdemos (para o Independiente), marcou na minha carreira, sou cria do Goiás, tenho um carinho imenso e essa derrota ficou marcada para sempre. Mas fui para o São Paulo em 2012 e vencemos a Sul-Americana, tínhamos um grupo muito forte. Foi especial, uma passagem muito boa, a equipe teve momentos altos e baixos, mas foi muito bacana, tenho orgulho.
Fonte: Globo Esporte